Inspirada por catálogos de botânica, fotógrafa americana usa pássaros de plástico em suas obras

RIO – Paula McCartney é fotógrafa de natureza. As suas três principais séries – “Bird watching” (“Observação de pássaros”), “A field guide to snow and ice” (“Um guia de campo para neve e gelo”) e “Bronx Zoo” (“Zoológico do Bronx”) – são composições perfeitamente naturais de pássaros, formas de gelo e animais na floresta. Se não fosse por um pequeno detalhe.
Como será que ela conseguiu capturar, em foco, os pássaros e tudo em torno, como se fêmea e macho estivessem posando, as cores vibrando em relação às folhagens? O que poderia parecer sorte tem outro nome. Inspirada por catálogos de botânica, a fotógrafa americana comprou pássaros de plástico, posicionou-os em seus verdadeiros habitats e escolheu o melhor ângulo.
– Não fiz esse trabalho para enganar o espectador, e sim como uma maneira de ter controle sobre a paisagem onde eu gostava de estar, mas onde sentia falta de ornamentos, de ver pássaros empoleirados por perto – explica ela, por e-mail. – Essa é a beleza da arte. Eu não preciso me contentar com a realidade, posso colaborar com o mundo natural para criar novas paisagens.
Em todos os projetos, Paula intervém nos cenários. O que alguns entendem como artificial é, para ela, uma manipulação que permite reinterpretar a natureza, torná-la “sua”. Suas fotos são produtos da ficção, seja quando ela organiza pássaros nos galhos, clica situações que simulam a selva no zoológico do Bronx ou registra materiais que transmitem a sensação de frio.
– Agora, estou terminando o livro “A field guide to snow and ice”. E estou preparando um outro, chamado “Book of trees, both native and introduced”, junto com um escritor, que vai contribuir com uma narrativa.
Entre as principais referências, a fotógrafa destaca “Celestographs”, série feita por August Strindberg no fim do século XIX a partir de um método experimental: sem câmera ou lente, em que as chapas fotográficas eram depositadas no chão ou na janela, expostas diretamente ao céu noturno. O resultado é uma imagem com pontos claros saltando do breu, que podem ser vistos como estrelas ou como grãos, poeira.
Embora o método de Paula seja bem diferente do de Strindberg, a questão levantada é a mesma: afinal de contas, o que vem a ser uma foto “natural”?

http://www.mnartists.org

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *